domingo, 4 de setembro de 2016

Longe, mas tão perto...

Um cantinho de paz na Sardenha, uma Sardenha autêntica e genuína.

- Para onde vou este ano nas minhas férias? Gostaria de um sítio não muito caro, nem muito comercial, nem com demasiada gente. Gostaria de estar rodeada de natureza e de mar.
Sigo com uma pesquisa... e depois...

Apanho o avião em Lisboa – direcção Barcelona (low cost) e em Barcelona apanho o barco até Porto Torres.
Porto Torres – Uma pequena cidade que de certeza poucos ouviram falar, por não aparecer muito nos guias turísticos, mas é um excelente ponto de partida para começar a viajar à descoberta do norte da Sardenha.
Não tenho carro e Alessandra vem-me buscar com o seu Panda. Percorremos 20 minutos de carro, passamos uma aldeia que se chama Ezzi Mannu e de seguida entramos numa pequena estrada de terra batida, com uma paisagem pitoresca, com burros, vacas e ovelhas, em direcção à Casa Maica.

Cheguei!
A Casa Maica é um espaço aberto, amplo, terra árida com muitas plantas e flores coloridas que enfeitam quase todos os recantos. Uma casa grande com uma mulher do mar e protectora, uma casita de um polvo que submerge um petroleiro, a fachada da casa com uma grande varanda ideal para tomar o pequeno-almoço, fazer um churrasco e comer, ler-se um livro num dos seus baloiços-sofá. Pode-se ainda jogar ténis ou apanhar uvas directamente da videira. Uma cozinha comunitária decorada com pedaços do mundo. Quartos duplos ou triplos com casa de banho privada. Espaço, espaço... para estar com pessoas, para estar consigo mesmo, para estra em contacto com a natureza, talvez falar com uma tartaruga... se ela aparecer!

A 5 minutos a pé da praia de Ezzi Mannu, a 10 minutos de carro da praia Rena Majore, a 15 minutos da praia Di Lampianu e a uns 15 minuto de Stintino e da praia La Pelosa, onde se pode apanhar o barco e conhecer a ilha Asinara. Águas transparentes...

Tudo começou há 3 anos, depois de muitos anos de viagens, de Itália ao Este da Europa, de África à América Latina, Alessandra com o seu desejo/necessidade de regressar à sua terra definitivamente, espera que pedacinhos do mundo com pernas, braços e coração cheguem até ela. O desejo e o projecto de criar um lugar de encontro (e reencontro, como foi o caso), intercâmbio, harmonia e relax...

Recomendo a todos a visitarem a Sardenha e a ficarem uns dias na Casa Maica!


Uma semana fantástica, em que regressei com um bocadinho de cada coisa que precisava de encontrar em mim. Porque o melhor das viagens é que nunca se volta igual...

Texto por Jô e Ale.


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quinta-feira, 10 de março de 2011

sábado, 30 de outubro de 2010

Devemos andar sempre bêbados... de virtude!

"Devemos andar sempre bêbados.
É a única solução.
Para não sentires o tremendo fardo do tempo que te pesa sobre os ombros e te verga ao encontro da terra, deves embriagar-te sem cessar. Com vinho, com poesia, ou com a virtude. Escolhe tu, mas embriaga-te. E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas de uma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez atenuada, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala; pergunta-lhes que horas são: 'são horas de te embriagares. Para não seres como os escravos martirizados do tempo, embriaga-te, embriaga-te sem descanso. Com vinho, com poesia. Ou com a virtude".

Charles Baudelaire in Poesia mais-que-perfeita

terça-feira, 29 de junho de 2010

Daniel Oliveira (www.expresso.pt)

9:00 Terça-feira, 29 de Junho de 2010

"Segundo um estudo realizado por sociólogos do ISCTE, vinte por cento dos portugueses estão abaixo do limiar de pobreza. Ou seja, não conseguem garantir o mínimo das necessidades familiares. Se não fossem as ajudas do Estado este número passaria para os 40%.

31% das famílias estão no escalão imediatamente acima do limiar de pobreza - ganham entre 379 e 799 euros. 21% não têm qualquer margem para qualquer despesa inesperada. 12% não conseguem comprar os medicamentos que precisam. Muitos deles, apesar de terem mais qualificações do que os seus pais, vivem pior do que eles. 35% vivem confrontadas com situações frequentes de escassez, o que inclui a impossibilidade de aquecer a casa ou de usufruir de baixas médicas para não perder rendimentos. 57% vivem com um orçamento familiar abaixo dos 900 euros.

Este povo pobre desconfia dos outros, desconfia do poder (70%), não está satisfeito com as suas condições de vida mas, extraordinariamente, considera-se feliz. Mais de um terço dos insatisfeitos diz que nada faz para mudar de emprego, 63% recusa a possibilidade de emigrar e apenas uma minoria diz que deseja voltar a estudar.

Este estudo diz-nos duas coisas.

A primeira é evidente para quem conheça o País: os portugueses não vivem acima das suas possibilidades. Vivem abaixo delas. Há uma minoria, isso sim, que garante para si a quase totalidade dos recursos públicos e privados. Somos, como se sabe, o País mais desigual da Europa. Temos dos gestores mais bem pagos e os trabalhadores que menos recebem. Somos desiguais na distribuição do salário, do conhecimento, da saúde, da justiça. E essa desigualdade é o nosso problema estrutural. É esse o nosso défice. Ele cria problemas económicos - deixando de fora do mercado interno uma imensa massa de pessoas -, orçamentais - deixando muitos excluídos dependentes do apoio do Estado -, sociais, culturais e políticos.

A segunda tem a ver com isto mesmo: a pobreza estrutural não leva à revolta. Dela não resulta exigência. Provoca desespero e resignação. Resignação com a sua própria vida, resignação com a desigualdade e resignação com a incompetência dos poderes públicos. A pobreza não apela ao risco. Não ajuda à acção. O atraso apenas promove o atraso.

Nos últimos 25 anos entraram em Portugal rios de fundos europeus. Aconteceu com eles o que aconteceu com todas as oportunidades que Portugal teve nos últimos séculos. Desde o ouro do Brasil, passando pelo condicionalismo industrial do Estado Novo e acabando nos fundos europeus, nos processos de privatização para amigos e no desperdício em obras públicas entregues a quem tem boas agendas de contactos, que temos uma elite económica que vive do dinheiro fácil, do orçamento público e da desigualdade na distribuição de recursos. Essa mesma que, em tempo de crise, o que pede éredução do salário e despedimento fácil.

Repito: os portugueses não vivem acima das suas possibilidades. Apenas vivem num País onde as possibilidades nunca lhes tocam à porta. O nosso problema é político. É o de uma economia parasitária de um Estado sequestrado por uma minoria que não inova, não produz e não distribui. De um Estado e de um tecido empresarial onde os actores se confundem. De um regime pouco democrático e nada igualitário. E de um povo que se habituou a viver assim. De tal forma resignado que aceita sem revolta que essa mesma elite lhe diga que ele, mesmo sendo pobre, tem mais do que devia."

sexta-feira, 18 de junho de 2010

E hoje Portugal ficou mais pobre...
Desapareceu um Grande Senhor... um grande escritor, mas sobretudo uma Pessoa que vai fazer falta a este Mundo, a este país...



Intimidade

No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.

José Saramago

A Flor Máis Grande do Mundo (José Saramago)

domingo, 30 de maio de 2010

Yamore - Salif Keita - Cesaria Evora

A pequena aldeia...


A pequena aldeia onde passava o Natal, com pais, avós , tios, primos, primas... chegávamos a ser uns 30 à mesa. Um vento frio vindo da montanha, lá do alto, cheia de neve. As paredes de pedra grossa e a lareira sempre fumegante, única forma de aquecimento para além do gorro, luvas e cachecol. No Verão era bem diferente, um calor insuportável onde a sesta era obrigatória, como também as idas ao rio Zêzere. As noites eram agitadas, desde de muito pequena, grupos de crianças juntavam-se, jogávamos às escondidas até à meia-noite, até os nossos pais nos chamarem. Já mais velhos (adolescentes, ou melhor pré-adolescentes),já íamos ao bar/esplanada e jogávamos matraquilhos e às cartas toda a noite. O largo da igreja sempre foi o ponto de encontro, principalmente à saída da missa das 12h ao Domingo, onde todos os habitantes vestiam o melhor fato. O sino da igreja continua a tocar de 15 em 15 minutos, ou então a memória pesa sobre a minha audição actual. Ainda me lembro, a minha avó tinha a casa no largo da igreja e o toque da família era 3 toques de seguida, para se abrir a porta sem ter que se ir à janela ver quem era. Caso fosse apenas 1, abria-se a porta da varanda e perguntava-se para a rua, quem é? A verdade seja dita, não sinto nenhuma ligação especial com esta pequena aldeia, mas tenho boas recordações da minha infância aqui. Em breve com certeza venho cá passar uns dias. Agora a chuva cai fininha e intensa, o cheiro agradável da terra molhada, passarinhos aconchegam-se nos telhados a chilrear. A praça deserta. O nevoeiro da serra vai descendo até aos telhados mais altos.

sábado, 29 de maio de 2010

Histórias de últimos dias por terras africanas

Cheguei dia 5 de Maio a Portugal, sem qualquer dúvida estes quase 3 meses na Guiné marcaram, estas experiências deixam sempre marcas. Obviamente que ainda não tenho a total consciência da dimensão dessas marcas, só mesmo com o tempo...
Gostava de partilhar mais coisas neste blog, da minha experiência no hospital público a fazer as análises do paludismo (malária), da ida ao Dr. Aly, da viagem a São Domingos, ou até mesmo outra pequenas coisas curiosas que acontecem no dia a dia na Guiné.
Claro que com o tempo as memórias vão-se desvanecendo...

Acordei um dia maldisposta, passei a manhã a fazer coisas diversas, que nem me lembro muito bem e continuei enjoada, fui almoçar até a um sítio com comida menos condimentada e fiquei pior. Pensei que teria sido alguma coisa que comi e me tinha caído mal. Passei um dia e uma noite bastante mal. No dia a seguir estava com febre e dores em todo o corpo, principalmente cabeça e articulações. Todas as pessoas que já estão na Guiné há mais tempo suspeitaram de paludismo. Uma das coisas mais normais é uma pessoa apanhar paludismo, e não é nada assim do outro mundo, é como uma gripe! Desde que uma pessoa esteja nutrida, (vá ao médico) e tome a medicação, passado 5 dias está bem! Fui ao Hospital Simão Mendes... até me assustei! Fui com uma amiga e reparámos que as condições não eram as melhores. Fizeram-me 2 análises, a rápida (de 15m) e a da gota espessa (de 30m), o resultado foi negativo. No dia seguinte continuava igual, e como dentro de 2 dias tinha a viagem para Dakar (4 horas de carro mais 14h de barco), para apanhar avião para Madrid e depois para Lisboa, pensei que nestas condições era complicado e decidi ir ao Dr. Aly. Todas as pessoas falavam muito bem deste médico, já trabalha em Bissau há muito anos, a frase que descrevia este médico: "O Dr Aly é realmente muito bom, basta olhar para ti já sabe o que tens!" Essa descrição não me agradou muito, mas fui! Examinou-me 5 minutos e explicou-me que era natural as análises darem negativo, porque tomando a profilaxia, não acusa nas análises e os sintomas também são menos fortes. Ou seja, a profilaxia realmente não serve para muito... Lá fui eu para casa, com a medicação... mas a verdade é que passado 5 dias já estava melhor! O que realmente me custou foi a viagem até Dakar... e cheguei a Portugal cansada...

Bem, outras coisas que queria descrever sãs as viagens de transportes... embora já tenha falado um pouco em alguns posts antigos... as viagens, o tempo, os trocos são coisas que diariamente ocupam o nosso pensamento. Eu vou banco e dão-me notas, mas com 1 nota não consigo comprar quase nada na rua porque ninguém tem troco, entro para o táxi e tenho que perguntar se tem troco, porque se não tiver é possivel que não me aceite! No hospital para pagar as análises (e estava mal!!!), a enfermeira não me aceitou a nota e tive de ir trocar para lhe pagar! Aqui o interessado que vai receber, não troca, tem que ser a pessoa que quer pagar que tem de se desenrascar para ter dinheiro trocado para pagar! Antes de sair de casa tinha de ver a carteira e caso não tivesse moedas tinha que ir a algum supermercado ou comprar alguma coisa para ter troco!
E realmente nunca se pode fazer contas com o tempo. Estava em Bissau. A viagem até São Domingos são cerca de 2h/2h30. Demorei 6h. saímos de Bissau, num 7place, que tal como o nome indica é o condutor e mais 7 pessoas. Desta vez éramos 10 adultos mais 5 crianças. Claro que temos que esperar sempre que o carro encha para poder partir. Partimos. Na saída de Bissau a polícia mandou-nos parar, os documentos do carro?? Ninguém sabe... o condutor deixa então o carro e todos os passageiros junto da polícia, apanha um Toca Toca e volta a casa para ir buscar os documentos. esta história demorou quase 2 horas... Entretanto lá chegou ele com os documentos e tudo bem, seguimos. Estávamos nós a meio caminho e o carro começa a fazer um barulho esquisito... e pára! Não conseguimos arrancar. 6 homens de volta do carro, uns quantos carros que param e tentam ajudar... passado quase mais 2 horas lá voltamos nós a entrar para o carro, supostamente arranjado. E passado algum tempo lá cheguei eu a São Domingo!

E agora... novamente em Lisboa...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Canchungo1

5ª feira, dia 15 de Abril, pelas 16 horas. Fiz uma mala rápida com o necessário para 4 dias. Pouca coisa: algumas t-shirts, umas saias, chinelos, toalha e biquini! Despedi-me da D. Berta que era a única pessoa na pensão e apanhei um táxi. Neste bairro (Praça), não há Toca-Toca, por isso no mínimo temos de ir até à paragem do Toca-Toca. O táxi é quase um transporte público, estava vazio e eu entrei. Quando o táxi está vazio é a 1ª pessoa a entrar que decide a direcção para onde o táxi vai, mas vamos parando quando as pessoas acenam. As que querem ir para outra direcção não são aceites no carro, as que vão para o mesmo lugar, entram. Normalmente 300 CFA para uma distância normal em Bissau, mas se for para mais longe ou de noite é mais caro. O táxi levou-me até à paragem dos 7places para Canchungo. Comprei a senha, calhou-me ficar no banco mais atrás e no meio... puff... o pior sítio. Alguns minutos depois arrancamos, 7 pessoas são fáceis de arranjar para encher o carro e partimos. Ainda passamos pela gasolineira para encher o depósito. O ar condicionado (todas as janelas abertas) faz com que os cabelos se agitem no ar durante todo o percurso. Muitas pessoas na estrada, principalmente nas zonas das Tabancas. Animais a passear na estrada, sempre! E por diversas vezes há 1 porco, 1 cabra, 1 vaca, 1 galinha no meio da estrada que nos obriga a abrandar... desta vez há um porco, o carro quase que pára e o animal começa a ir para o lado esquerdo, o carro avança para o lado direito, o animal assusta-se e vai para o lado direito... fim trágico do animal e um ligeiro problema na roda... o porco era grande! E isto já me aconteceu tantas vezes!! Chego a Canchungo passado cerca de 1 hora e meia. A Catarina vai-me buscar. Canchungo é uma estrada, uma rotunda. Mas uma estrada comprida! Tem um mercado com imensas coisas e tem um rio e isso significa que há peixe! Já era final da tarde e comprámos algumas coisas para o jantar.A noite foi tranquila, por casa, a luz acabou às 22h. No dia seguinte vou passear, ao mercado, ver as pessoas, comprar verduras e frutas, comer bolos que vendem na rua, sentir o ritmo de Canchungo que nada tem a ver com Bissau. A partir das 12h já começa a ser difícil, é um calor insuportável... Fazemos o almoço e dormimos a sesta. Aqui, a sesta é algo obrigatório, a essa hora é humanamente impossível fazer o que quer que seja! A partir das 16 horas já se começa a ver algum movimento nas ruas e às 17 horas as crianças saiem das escolas e é uma enchente na avenida principal, onde estão as escolas. Ao final da tarde fomos ver como estava o rio (que é super salgado, porque é um braço de mar!) e estava completamente vazio, a maré só está cheia de manhã.

Canchungo2

Depois começamos a organizar as coisas para o jantar, vamos a um sítio onde se come uma caldeirada de gazela, carne super tenrinha! Depois vamos jogar matraquilhos e vamos dar um pézinho de dança na discoteca. Pelas 2 horas da manhã há um corte de energia e a discoteca fica totalmente às escuras. Voltámos para casa. No dia seguinte acorda-se não muito cedo e vamos dar uns grandes mergullhos no rio. Óptimo!

Comer um peixe grelhado, dormir a sesta e vamos ao grande acontecimento da semana de canchungo: vamos ao estádio assistir ao jogo de futebol entre Canchungo e Benfica de Bissau. Estavam ambas as equipas em 1º lugar da liga da Guiné-Bissau. Chegamos perto do estádio e há várias pessoas a venderem bilhetes, os preços variam entre os 100 CFA e os 400 CFA. Tendo em consideração que este último preço é cerca de 60 cêntimos e que era nas bancadas onde nos podíamos sentar à sombra, não hesitámos. Canchungo ganhou por 3-2. Foi um jogo super competitivo e era a loucura quando cada vez que Canchungo marcava um golo e havia uma invasão de campo por todos os adeptos! O resto do dia de sábado tranquilo. No domingo ainda fomos ver o rio, mas estava maré baixa, só estaria igual ao dia anterior uma hora depois da hora de sábado, ou seja pelas 13h. Decidimos ir para Bissau mais cedo. Apanhámos um 7places e lá fomos nós.
Beijinhos e abraços e até breve!**


sexta-feira, 9 de abril de 2010

Varela

Varela fica a 50 kms a oeste de São Domingos, na costa da Guiné-Bissau e muito perto da fronteira com o Senegal, a norte do Rio Cacheu. A estrada de São Domingos para Varela é de terra e antigamente passava por 3 pequenas pontes de madeira e algumas vezes tinha-se de fazer a travessia de barco. Felizmente já pudemos fazer essa viagem por boas pontes. Aí existe a única praia de areia do país a norte de Bissau.

A Praia de Varela é excelente, dizem que talvez a melhor praia do continente guineense, e tem que ser partilhada com vacas que deambulam pela areia.
Sábado, eu e mais 6 pessoas (amigos franceses que trabalham aqui também em Bissau) alugámos uma Candonga e fomos até lá. Ficámos no quintal de um amigo, acampados. E sinceramente, soube muito muito bem. Praia (onde se podia mergulhar sem haver medo das raias como nos Bijagós, só havia alforrecas!), ostras grelhadas, pescar peixinho e grelhar, descansar e à noite festinha na praia.
De sábada o a segunda feira... soube muito bem!
Pena foi que fui mordida por um bicho desconhecido... e tenho o pé como pata de elefante... Mas há-de passar... :)
Beijos grandes **

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Tentativa de golpe de Estado

É bem verdade, houve uma nova tentativa de golpe de estado na Guiné- Bissau. Mas infelizmente isto parece ser uma coisa cíclica, quando passam 5 meses sem acontecer nada deste tipo as pessoas já começam a suspeitar. E dia 1 acordámos com a notícia de que o primeiro ministro tinha sido levado pelos militares juntamente com o chefe supremos das forças armadas. Imaginou-se o pior. Começaram a chegar pessoas de várias ONG que tinham sido evacuadas. Toda a gente ligava a toda a gente para que as pessoas ficassem em casa. Não se sabia o que podia acontecer. Nas ruas sentia-se tensão, as pessoas agrupavam-se para ouvirem em conjunto as notícias que passavam na rádio dos últimos acontecimentos. O primeiro Ministro à hora de almoço já tinha sido libertado. Houve recolher obrigatório às 17h e essa noite foi de um silêncio total. No dia seguinte parecia tudo normal. E já tinha tudo voltado, até ao próximo! O Presidente da República reuniu com todos, com excepção do chefe supremo das Forças Armadas que continuava preso.

As pessoas estavam realmente tristes e pela primeira vez da história do país, foram para a rua mostrar a sua indignação por esta violência e tomada de decisão dos militares. Mas há demasiados interesses por detrás disto tudo... Esta semana havia uma reunião com o FMI, supostamente iria ser perdoada a dívida externa do país, reunião esta que foi cancelada. E o país retrocedeu uns bons anos com esta situação... e o pior é que toda a gente sabe que vai continuar a ser assim! Os guineenses merecem que o país vá para a frente e que estas situações deixem de acontecer...

quarta-feira, 31 de março de 2010

Mercado



Levanto-me. Agora temos electricidade 24h por dia na pensão, ligo a ventoinha do tecto, porque às 8h da manhã o calor já é muito. Tenho picadelas novas, como todos os dias, o raio dos mosquitos não me largam, até com a rede mosquiteira... não sei como conseguem... Mas ao menos aqui já não tenho formigas na cama, como nas semanas em Iemberem! Tomo o pequeno almoço e vou ao mercado. No Bandim há de tudo, tudo o que se pode querer, no Bandim há! Um dia destes vou ler os búzios, quem sabe! :) Aqui vive-se a religiosidade de uma maneira tão intensa, que te deixas levar. Eu não acredito, mas tenho um grande respeito! Aqui os curandeiros são a primeira escolha quando algo acontece, caso não haja resultado, depois as pessoas vão ao médico. Isto principalmente nas tabancas, em Bissau as coisas já são um pouco diferentes, mas nem muito assim! No Bandim oiço de 2 em 2 minutos a chamarem-me, não pelo meu nome, mas pela cor da minha pele, como não vejo mais nenhum outro branco, deduzo que seja para mim. As crianças pedem-me para lhes comprar saldo para telemóvel, meias, gilettes, cigarros individuais, mancarra (amendoins), etc, etc. Vou às senhoras das papaias, estou completamente viciada em papaia! 1 papaia pequena 500 CFA. Meio quilo de tomates 500CFA. 2 ovos 200 CFA. Gosto de ir ao mercado, a azáfama dos compradores e vendedores, mas ao mesmo tempo a serenidade de quem simplesmente está sentado à espera que alguém chegue e compre. Cada dia esperam vender alguma coisa, para no final do dia terem algum dinheiro para comprar comida para a família. Quem vive nas tabancas de mais difícil acesso, as coisas são mais complicadas. Porque aí a maioria das pessoas cultiva alguma coisa e vende o que tem, mas quando os mercados são longe têm de caminhar muito para irem vender. Também há quem tenha bicicleta, alguns vão de tabanca em tabanca com diversos produtos, são os vendedores ambulantes. Aqui em Bissau realmente há de tudo. Claro que os produtos mais "europeus" encontram-se nos supermercados, que em grande maioria são frequentados por europeus. Aqui os preços são exurbitantes, mas também é tudo marca, maioritariamente portuguesa. Vou ao mercado central almoçar. O mercado central, pelo que percebi era um dos mais abastecidos, mas que foi completamente destruido na guerra civil de 1988. Posteriormente foi recuperado em 1999, mas houve um novo incêndio e a partir dessa altura está completamente degradado, onde se junta muito lixo... No entanto, há umas senhoras que se juntam lá e cozinham em grandes panelas alguns pratos. Colocaram bancos de madeira e as pessoas almoçam por 500 CFA. Eu sou uma cliente assídua. Caldo de mancarra, um prato de peixe com mandioca, cenoura, abóbora e arroz e um outro. Normalmente há 3 pratos. Algumas pessoas comem com as mãos, mas também têm colheres. No início uma pessoa até se faz um pouco de esquisita, mas neste momento até compro os sumos de cabaceira que as mulheres fazem e metem dentro de garrafas de plástico/ vidro. O sumo é bom e nunca me aconteceu nada, por isso vou continuar a comprar comida na rua. Descontraída! Sinto-me bem! Ando a fazer mil e umas coisas! Dar aulas de natação, dar explicações de português, ter aulas de dança, ter aulas de francês, organizar uns projectos com uma ONG guineense que trabalha na área da violência contra mulheres (principalmente mutilação feminina e casamentos forçados). Estou a conhecer muitas pessoas e cada dia é uma novidade.
A noite aqui é escura, mais escura do que nos outros sítios. Aqui não
há electricidade, só geradores. Então as ruas são mesmo escuras e tem que se ter muito cuidado com os buracos no chão, mas as estrelas brilham muito e quando está lua cheia ela ilumina a estrada. Eu estou na Praça (nome do bairro), mas aqui não se passa nada. No final da tarde início noite a estrada principal está caótica, demora-se imenso tempo, é a hora de ponta de Bissau. Então junto ao mercado do Bandim, os Toca Toca, taxis, bicicletas, carros, candongas, fazem as suas razias junto a outros veículos e a peões já acostumados a esta azáfama. As vendedoras de pão, bolos, laranjas, bananas e papaias continuam ali, no mesmo sítio desde as 8h da manhã, continuam serenas, com as suas cores coloridas nas saias, lenços na cabeça e lenço nas costas com a criança a dormir. Com a noite a chegar, começa-se a acender as pequenas lâmpadas para os possíveis compradores possam saber onde está o produto necessário. Isto tudo na berma da estrada.

domingo, 28 de março de 2010

O "TEMPO" em África


"A percepção que têm do tempo é diferente, como é diferente a relação que com ele mantêm. O europeu está convencido de que o tempo tem uma existência exterior a ele próprio, uma existência objectiva e com uma natureza mensurável e linear. O europeu vê-se a si próprio como um escravo do tempo, está dependente dele, é-lhe submisso. Para poder existir e funcionar tem de respeitar as suas leis, seus prazos, datas, dias e horas. Move-se dentro da máquina do tempo e essa máquina impõe-lhe as suas obrigações, exigências e normas. Entre o Homem e o tempo paira um conflito irresolúvel, que termina sempre com a derrota do Homem, o tempo destrói-o. O tempo torna-se perceptível como consequência das nossas acções e desaparece quando deixamos de fazer alguma coisa ou não fazermos absolutamente nada. O tempo é uma categoria passiva e, acima de tudo, dependente do Homem. Uma inversão completa do pensamento europeu. Quando chegamos a uma aldeia num país africano, na qual vai haver uma reunião durante a tarde e não encontramos ninguém no local, não vale a pena perguntar quando a reunião começa. A resposta é conhecida: "Quando as pessoas estiverem presentes". Daí que um africano, depois de entrar num autocarro, nunca pergunta quando vai partir, entra, senta-se num lugar livre e passa imediatamente a um estado no qual passa uma grande parte da sua vida- À espera! Em que consiste essa espera? Quando entram neste estado, as pessoas sabem à partida o que vai acontecer e por isso escolhe uma posição confortável, num lugar agradável. Muitas vezes deitam-se, ou acocoram-se no chão sobre uma pedra. Calam-se. A maioria dos que esperam fá-lo em silêncio, os músculos descontraem-se . O que vai nas suas cabeças?? Será que pensam? Sonham? Recordam? Planeiam o que quer que seja? Meditam? Será que se encontram num outro mundo?..."

Ryszard Kapuscinski Ébano- A Febre Africana

quarta-feira, 24 de março de 2010

Bijagós- Bubaque






Este fim de semana fui aos Bijagós, mais exactamente à ilha de Bubaque. Apanhei barco pelas 14h em Bissau na 6ª feira e cheguei pelas 18h a Bubaque. O porto não é nada bonito, não costumam ser e este não era excepção. Fui com 2 raparigas portugueses que estão a fazer o doutoramento em Buba. Chegámos e andámos à procura de sítio para ficar, dividimos um bangalow. 6ª feira não foi comprida, e no sábado fomos à ilha de Bruces, com um grupo alugámos um carro entre todos, éramos 12! A ilha de Bruces é paradisíaca, uma praia de uns 10 kms completamente para nós, palmeiras e uma vegetação diversa... e umas casas abandonadas de ex-colonos, imagem de uma cidade fantasma no meio da série "Lost"... Lindo! Depois jantar, ouvir musica, dançar... Um ambiente super tranquilo, relaxante... Era gaja de ficar por lá 1 semanita a não fazer nada e sabe tão bem!
Agora de volta a Bissau, desde domingo! 2ª e 3ª estive a trabalhar na edição do filme de sensibilização para a comunidade de Iemberem, com a TV Klelé, aqui em Bissau e já acabou de vez esse trabalho! E comecei a ser ajudante da professora de natação da escola internacional, todas as 3ªs durante 2 horas! É muito bom e divirto-me imenso! E sempre vou desenvolvendo mais o francês porque só se fala esse idioma nessa escola.

Bjoas grandes**

terça-feira, 16 de março de 2010

mapa

Iemberem como muita flora e fauna





Em Iemberém

Depois da viagem atribulada... mas de certa maneira nada comparada com a viagem de volta... que já lá iremos! Em Iemberem fiquei numa casa de passagem da ONG guiniense AD. Na 1ª semana estive a conhecer a comunidade: fui às escolas, fui ao centro de saúde onde assisti a muitas consultas e tentei perceber quais as principais problemáticas da zona, conheci as principais ONGs existentes na comunidade, conheci as instalações e programa da rádio e televisão comunitária. Falei com muitas pessoas, iam todas lá a casa para me cumprimentarem e oferecerem-me bananas e coisas desse tipo! Ali, quando se sai de casa, nunca se sabe quanto tempo se demora a chegar ao nosso destino, depende sempre da quantidade de pessoas que encontramos pelo caminho... porque cada pessoa que vemos, cada cumprimento de meia hora... O cumprimentar traduzido para português (porque sim, já o faço em crioulo, mal... mas tento!)
" - Bom dia!
- Bom dia!
- Como está?
- Tudo bem! E como está?
- Tudo bem. E como vai o corpo?
- O corpo vai bem.
- Como vai a família?
- A família está bem.
- E como acordou?
- Acordei bem.
- E como vai o trabalho?
- O trabalho vai bem.
- E como está a passar o dia?
- Tudo bem..."

E fui conhecendo as pessoas... na 2ª semana comecei a criar o guião para o spot publicitário, cerca de 15 minutos, para sensibilizar a comunidade dos cuidados a ter de higiene e formas de prevenção de doenças. Gostei muito! Claro que surgiram pequenos obstáculos que nestas situações se tornam em problemas maiores, mas que iam sempre sendo ultrapassados... com maior ou menor dificuldade! Por exemplo arranjar pessoas para falar à frente das câmaras, não foi nada fácil... ou quando o camera-men ficou com febre... e tendo em consideração que só havia electricidade das 19h às 24h... Mas foi uma experiência realmente enriquecedora!
Infelizmente não foi possível fazer todo o trabalho de edição em Iemberem e trouxe o trabalho em bruto para Bissau, para ser editado aqui. A viagem de volta... então de manhã andei a ver se havia algum carro que saísse... descobri um camião. Esse camião ia sair às 10h, óptimo! Saímos às 11h! Está bem! Pessoas (mais de 30), cabras (eram 3), galinhas (mais de 10), patos (4), frutas, malas, alguidares, sacos, madeira, bidons de gasóleo... tudo para dentro do camião!! E misturado! Ok e lá partimos nós! O tempo que eu demorei de moto na viagem de chegada (2h), de camião já ia em 4 horas e estávamos em metade do caminho! Paravámos em todas as Tabancas para apanhar mais alguma pessoa ou para apanhar mais alguma bagagem para levar ao primo que estava numa outra Tabanca mais à frente. Cada vez que parávamos, íamo-nos sentar à sombra de alguma casa e aí davam-nos comida. Lembro-me de um grupo de 10 pessoas, comigo incluída, agachadas à volta de um alguidar de arroz, onde todos comemos com as mãos, estava óptimo o arroz! Também comi uns fritos com fruta pão e cebola e malagueta! A viagem foi muito rica, mas se continuasse com o camião não chegava nesse dia a Bissau de certeza... Passou um carro da Missão Envangélica e apanhei boleia! Éramos menos, mas mesmo assim o número excedia em muito a lotação suposta. Assim, consegui chegar às 17h30 a Quebo. Em Quebo, às 18h consegui arranjar uma candonga (novamente muitas pessoas, animais e mercadorias) e cheguei a Bissau pelas 22h. Tomei um banho e viajei exausta para o país dos sonhos...
Agora estou em Bissau...
Vou na 6ª feira para Bubaque, nos Bijagós.
Comecei ontem as aulas de dança: danças tradicionais das várias étnias ( Balanta, Fula, Mandinga, Pepel, Bijagó...).
Ando a entregar CVs e vamos a ver o que acontece... queria ficar por Bissau, para não me acontecer como na entrevista para os Médicos do Mundo que estava no Sul, sem internet e com pouca rede...

Beijinhos**

Buba até Iemberém


Estas imagens lindíssimas são de Buba, no sul do país. Apanhei boleia de um carro da cooperação portuguesa até Buba, aí fiquei um dia e uma noite na casa de duas raparigas portuguesas que estão a fazer o doutoramento com chimpanzés. No dia seguinte elas iam para Bissau e eu fiquei no cruzamento de Manpata às 6h da manhã, noite breu!! Aí estive até às 9h, até passar um camião que me deu boleia (boleia que se paga, claro!) até Guilege. Atenção que este caminho é um dos piores do país... cheio de crateras... 1h de caminho e depois em Guilege paguei a um fulano para me ir por de mota, e foram 2 horas até Iemberém! Uma aventura...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Dias a passar em Bissau...

E amanhã já faz 2 semanas que cheguei a Bissau!!
De uma forma geral está tudo a correr bem, claro que melhor seria encontrar trabalho, remunerado!
Nos primeiros dias foi a novidade, pessoas, a cidade, tudo era novidade! Os primeiros dias foram de Carnaval, então houve muita festa! Depois comecei a ir ao orfanato, onde hoje foi o último dia... é como que se uma etapa já se tivesse acabado! No fim de semana fui a uma tabanka (aldeia), Tabatô, perto de Bafatá. Gostei muito, a maneira simples e descontraída como se passou os dias... Boa comida, boa música, pessoas amáveis.
O que mais aprecio é esta tão grande diversidade: imensas etnias, inúmeros idiomas, costumes, religiões... há imensas influências do Senegal, Mali, Conakry... Conheci crianças de 6 anos que falavam 3 idiomas, o crioulo, o fula e o mandinga!
Em princípio este fim de semana ou no início da próxima semana vou para o Sul, para Iemberem. Aí irei trabalhar com uma enfermeira em Materno-Infantil e pelo que me explicaram seria para criar directrizes para um spot publicitário sobre as necessidades das grávidas e recém-nascidos. Parece-me interessante, mas vamos ver! Primeiro, só o chegar lá é difícil... E em Iemberem não há muita rede de telemóvel e não há internet! Mas Bissau também cansa um pouco, principalmente se não estiver a trabalhar, por isso estou com vontade para sair da cidade e ir para o meio do mato. Ouvi dizer que até há macacos perto da casa!
:)
Bem... vamos ver como isto correr...
Beijinhos* Jô

Crianças





Carnaval em Bissau