domingo, 28 de março de 2010

O "TEMPO" em África


"A percepção que têm do tempo é diferente, como é diferente a relação que com ele mantêm. O europeu está convencido de que o tempo tem uma existência exterior a ele próprio, uma existência objectiva e com uma natureza mensurável e linear. O europeu vê-se a si próprio como um escravo do tempo, está dependente dele, é-lhe submisso. Para poder existir e funcionar tem de respeitar as suas leis, seus prazos, datas, dias e horas. Move-se dentro da máquina do tempo e essa máquina impõe-lhe as suas obrigações, exigências e normas. Entre o Homem e o tempo paira um conflito irresolúvel, que termina sempre com a derrota do Homem, o tempo destrói-o. O tempo torna-se perceptível como consequência das nossas acções e desaparece quando deixamos de fazer alguma coisa ou não fazermos absolutamente nada. O tempo é uma categoria passiva e, acima de tudo, dependente do Homem. Uma inversão completa do pensamento europeu. Quando chegamos a uma aldeia num país africano, na qual vai haver uma reunião durante a tarde e não encontramos ninguém no local, não vale a pena perguntar quando a reunião começa. A resposta é conhecida: "Quando as pessoas estiverem presentes". Daí que um africano, depois de entrar num autocarro, nunca pergunta quando vai partir, entra, senta-se num lugar livre e passa imediatamente a um estado no qual passa uma grande parte da sua vida- À espera! Em que consiste essa espera? Quando entram neste estado, as pessoas sabem à partida o que vai acontecer e por isso escolhe uma posição confortável, num lugar agradável. Muitas vezes deitam-se, ou acocoram-se no chão sobre uma pedra. Calam-se. A maioria dos que esperam fá-lo em silêncio, os músculos descontraem-se . O que vai nas suas cabeças?? Será que pensam? Sonham? Recordam? Planeiam o que quer que seja? Meditam? Será que se encontram num outro mundo?..."

Ryszard Kapuscinski Ébano- A Febre Africana

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