domingo, 30 de maio de 2010

Yamore - Salif Keita - Cesaria Evora

A pequena aldeia...


A pequena aldeia onde passava o Natal, com pais, avós , tios, primos, primas... chegávamos a ser uns 30 à mesa. Um vento frio vindo da montanha, lá do alto, cheia de neve. As paredes de pedra grossa e a lareira sempre fumegante, única forma de aquecimento para além do gorro, luvas e cachecol. No Verão era bem diferente, um calor insuportável onde a sesta era obrigatória, como também as idas ao rio Zêzere. As noites eram agitadas, desde de muito pequena, grupos de crianças juntavam-se, jogávamos às escondidas até à meia-noite, até os nossos pais nos chamarem. Já mais velhos (adolescentes, ou melhor pré-adolescentes),já íamos ao bar/esplanada e jogávamos matraquilhos e às cartas toda a noite. O largo da igreja sempre foi o ponto de encontro, principalmente à saída da missa das 12h ao Domingo, onde todos os habitantes vestiam o melhor fato. O sino da igreja continua a tocar de 15 em 15 minutos, ou então a memória pesa sobre a minha audição actual. Ainda me lembro, a minha avó tinha a casa no largo da igreja e o toque da família era 3 toques de seguida, para se abrir a porta sem ter que se ir à janela ver quem era. Caso fosse apenas 1, abria-se a porta da varanda e perguntava-se para a rua, quem é? A verdade seja dita, não sinto nenhuma ligação especial com esta pequena aldeia, mas tenho boas recordações da minha infância aqui. Em breve com certeza venho cá passar uns dias. Agora a chuva cai fininha e intensa, o cheiro agradável da terra molhada, passarinhos aconchegam-se nos telhados a chilrear. A praça deserta. O nevoeiro da serra vai descendo até aos telhados mais altos.

sábado, 29 de maio de 2010

Histórias de últimos dias por terras africanas

Cheguei dia 5 de Maio a Portugal, sem qualquer dúvida estes quase 3 meses na Guiné marcaram, estas experiências deixam sempre marcas. Obviamente que ainda não tenho a total consciência da dimensão dessas marcas, só mesmo com o tempo...
Gostava de partilhar mais coisas neste blog, da minha experiência no hospital público a fazer as análises do paludismo (malária), da ida ao Dr. Aly, da viagem a São Domingos, ou até mesmo outra pequenas coisas curiosas que acontecem no dia a dia na Guiné.
Claro que com o tempo as memórias vão-se desvanecendo...

Acordei um dia maldisposta, passei a manhã a fazer coisas diversas, que nem me lembro muito bem e continuei enjoada, fui almoçar até a um sítio com comida menos condimentada e fiquei pior. Pensei que teria sido alguma coisa que comi e me tinha caído mal. Passei um dia e uma noite bastante mal. No dia a seguir estava com febre e dores em todo o corpo, principalmente cabeça e articulações. Todas as pessoas que já estão na Guiné há mais tempo suspeitaram de paludismo. Uma das coisas mais normais é uma pessoa apanhar paludismo, e não é nada assim do outro mundo, é como uma gripe! Desde que uma pessoa esteja nutrida, (vá ao médico) e tome a medicação, passado 5 dias está bem! Fui ao Hospital Simão Mendes... até me assustei! Fui com uma amiga e reparámos que as condições não eram as melhores. Fizeram-me 2 análises, a rápida (de 15m) e a da gota espessa (de 30m), o resultado foi negativo. No dia seguinte continuava igual, e como dentro de 2 dias tinha a viagem para Dakar (4 horas de carro mais 14h de barco), para apanhar avião para Madrid e depois para Lisboa, pensei que nestas condições era complicado e decidi ir ao Dr. Aly. Todas as pessoas falavam muito bem deste médico, já trabalha em Bissau há muito anos, a frase que descrevia este médico: "O Dr Aly é realmente muito bom, basta olhar para ti já sabe o que tens!" Essa descrição não me agradou muito, mas fui! Examinou-me 5 minutos e explicou-me que era natural as análises darem negativo, porque tomando a profilaxia, não acusa nas análises e os sintomas também são menos fortes. Ou seja, a profilaxia realmente não serve para muito... Lá fui eu para casa, com a medicação... mas a verdade é que passado 5 dias já estava melhor! O que realmente me custou foi a viagem até Dakar... e cheguei a Portugal cansada...

Bem, outras coisas que queria descrever sãs as viagens de transportes... embora já tenha falado um pouco em alguns posts antigos... as viagens, o tempo, os trocos são coisas que diariamente ocupam o nosso pensamento. Eu vou banco e dão-me notas, mas com 1 nota não consigo comprar quase nada na rua porque ninguém tem troco, entro para o táxi e tenho que perguntar se tem troco, porque se não tiver é possivel que não me aceite! No hospital para pagar as análises (e estava mal!!!), a enfermeira não me aceitou a nota e tive de ir trocar para lhe pagar! Aqui o interessado que vai receber, não troca, tem que ser a pessoa que quer pagar que tem de se desenrascar para ter dinheiro trocado para pagar! Antes de sair de casa tinha de ver a carteira e caso não tivesse moedas tinha que ir a algum supermercado ou comprar alguma coisa para ter troco!
E realmente nunca se pode fazer contas com o tempo. Estava em Bissau. A viagem até São Domingos são cerca de 2h/2h30. Demorei 6h. saímos de Bissau, num 7place, que tal como o nome indica é o condutor e mais 7 pessoas. Desta vez éramos 10 adultos mais 5 crianças. Claro que temos que esperar sempre que o carro encha para poder partir. Partimos. Na saída de Bissau a polícia mandou-nos parar, os documentos do carro?? Ninguém sabe... o condutor deixa então o carro e todos os passageiros junto da polícia, apanha um Toca Toca e volta a casa para ir buscar os documentos. esta história demorou quase 2 horas... Entretanto lá chegou ele com os documentos e tudo bem, seguimos. Estávamos nós a meio caminho e o carro começa a fazer um barulho esquisito... e pára! Não conseguimos arrancar. 6 homens de volta do carro, uns quantos carros que param e tentam ajudar... passado quase mais 2 horas lá voltamos nós a entrar para o carro, supostamente arranjado. E passado algum tempo lá cheguei eu a São Domingo!

E agora... novamente em Lisboa...