sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Um presente tão incerto... Uma infinidade de ideias e pensamentos em cada milésimo de segundo...uma quantidade de dúvidas tão grande como de grãos de areia na praia... O querer muito e saber que não depende de querer... Ter a decisão nas mãos de outras pessoas, ou numa sorte que está espalhada por aí, mas que nestas últimas 3 semanas não me acompanha, nem me veio fazer uma única visita... O não saber, o não ter a mínima das ideias se irei continuar sem "chão" nos próximos dias... Ter apenas uma visão de incerteza contínua na linha do horizonte... Acordar cada dia de manhã a pensar que será hoje que alguém me liga para uma entrevista de trabalho... Começar a desesperar aos bocadinhos por cada dia que passa... e nada! Um querer ficar por cá, por sentir saudades de uma cidade tão mágica como é Lisboa... mas... falta muita coisa para poder ficar...um emprego??... Continuo a ter muitos planos na minha cabeça... mas pela primeira vez na vida... não sei mesmo como concretizá-los... preciso de um trabalho!!!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Fotos Angola

Não tenho muitas... nem são as que melhor retratam o que gostaria... mas aqui ficam algumas fotos de Angola!Cidade de LubangoCom 2 jovens do Lar da Nazaré: o Zacarias e o Domingos.Hoque: a vista da nossa janela.Na comunidade de KalihenguaAlba em KalihenguaOnde o deserto se junta ao mar: Namibe.Chegada do segundo grupo de cooperantes, a caminho de Tombwa, no deserto com as plantas welwitchias, únicas do mundo!A vista da nossa casa em Tombwa.A maioria da população em Angola: crianças!A comunidade do Arco. Lindíssimo!A Rita no Arco
A comunidade da Curoca

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

... em processamento de vivências...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Resumo Angola- parte II

Dia 16 à tarde fomos a Kalihengua, uma outra pequena comunidade tão semelhante à imagem que eu fazia de uma África a sério: tons laranja avermelhados da terra, muitas crianças pobres sem sapatos, mulheres com expressão triste com corpos cansados de tantos filhos terem tido e de continuarem a buscar água a alguns quilómetros de distância e trabalharem a terra. Uma imagem que me fica e que me ficará...
Restante semana ficámos por Hoque. Nestas tardes em que supostamente íamos dar consultas e dávamos, a Ludi e a Alba... porque o ano passado veio uma médica e este ano, não me pareceu ter havido boa comunicação por parte da nossa ONG, porque pensavam que também seria alguma médica. Realmente para o trabalho a realizar nestas comunidades precisavam de médicos, de enfermeiros, ou então com conhecimentos que Ludi tinha. Alba também fez um bom trabalho a nível de problemas musculares e ósseos... mas eu senti-me um pouco perdida... numa situação daquelas é mais do que compreensível que não se necessita de um psicólogo... mas ajudei no que pude à Ludi e à Alba, a Rita foi a nossa réporter. Também de ter em consideração que nestas pequenas comunidades, a minoria falava português.
No final, em todos os locais nos davam ovos, um saco de feijão, uma galinha ou até mesmo duas... ficavam muito agradecidos do pouco que podriamos fazer.

Entre os grupo de voluntárias démos-nos muito bem, para facilitar as coisas em casa fizémos um pequeno esquema para se dividir as tarefas de cozinha e de limpeza e durante as noites conversávamos imenso... ríamo-nos muito...
Criámos muito boa relação com os professores e professoras, com quem saímos algumas noites a um pequeno sítio, que se pode chamar de “bar”, porque passava música e vendia bebidas. Começámos a gostar de Kizomba, começámos a aprender a dançar... já o tarraxinha se mostrou um pouco mais complicado... pode-se entender o porquê pela simples razão da distância entre os dois corpos não existir, e pela forma como se movem...e mais não digo...imagine-se!
Também se inicialmente a relação com os brasileiros da Metro-Europa era meramente profissional- isso porque eram eles que nos iam a por e a buscar a cada sitio de carro- criámos uma boa relação de amizade com alguns deles. Graças a eles, pudémos tomar banho de duche e com água quente algumas vezes!! Também era através deles que tínhamos acesso à internet.
E claro, com o passar do tempo, mais pessoas íamos conhecendo e toda a comunidade sabia quem éramos: as 4 brancas! Feliz ou infelizmente a comunidade sendo tão pequena, toda a gente sabe de tudo e tudo se fala... até que o s.p. nos veio avisar que seria de bons modos não sairmos à noite e beber cerveja... Ouvimos, mas não seguimos o conselho... tive alguns problemas... senti-me totalmente numa novela... e brasileira!

Dia 19 de Julho
Foi o último dia de formação em Hoque e tivémos uma pequena comemoração de entrega de diplomas. Fiz anos nesse dia e nesse “pequeno” almoço, tive 60 pessoas a cantarem-me os parabéns... foi bonito!
À tarde houve uma pessoa que falou de uma possibilidade de churrasco, Sr Faustino!! Mas afinal não houve churrasco mas tivémos uma noite muito animada nesse tal bar e sim, nessa noite o padre podia zangar-se com razão! Mas era a minha festa de anos e estava toda a gente!! Houve um momento em que alguém... sim, o Rafa! Que parou a música para se cantar os parabéns... E toda a gente tão animada que dava mesmo prazer só de ver! Não foram ultrapassados quaisquer limites de alguma barreira que poderia existir, tendo em consideração que éramos cooperantes... mas já era bastante tarde quando chegámos à cama!
Cheguei à cama feliz, por ter passado um dia de aniversário tão especial!

Dia 20 de Julho
Às 6h da manhã já estava o António a bater-nos à porta. António, uma personagem...o seminarista! Ficou combinado que teríamos de desmontar as camas e colocar tudo no carro para a Ludi ir com toda a nossa tralha para a casa nova em Cacula... casa essa que seriam uns balneários de um pavilhão desportivo... a Ludi, com uma boa decisão não aceitou. Não havia casa disponivel em Cacula. Todas as coisas voltaram para Hoque, ficaríamos mais uma semana vivendo em Hoque, indo todas as manhãs para as aulas em Cacula. Uma pequena discussão com o p.l...decidimos não ir à missa e ficar a arrumar outra vez todas as coisas... tendo em consideração que tinhamos dormido realmente muito pouco!
Fomos almoçar ao Metro-Europa, já quase nossa segunda casa...não tínhamos comida em casa! Com os nossos amigos brasileiros fomos passar dia a Lubango e conhecer a Serra da Lebra. Eudes, Edi, Alex e Rafa. Fomos ao Huíla Café, pela primeira vez bebi um Delta. Fomos passear pela serra e vimos um por do sol realmente muito bonito.
Um dia muito bem passado! E acabámos a jantar no Freitas.

Dia 21 a 26 de Julho
Todos os dias desta semana pela manhã fomos de “rally” para Cacula. Uma aldeia mais desenvolvida que o Hoque, em que démos as aulas de uma forma bastante semelhante à semana anterior, com a excepção de serem muitas mais pessoas em cada grupo. E claro está, dificultando as dinâmicas de grupo e a comunicação entre todos. Mas foi bom!
Dia 26 passou o mesmo, a comemoração de final de curso e entrega de diplomas.
Durante a tarde dessa semana fomos às comunidades de Mucamba, Catepe e Vitivivali.
E durante a noite, continuámos na nossa vida social e na nossa aprendizagens nas danças angolanas. Esta semana houve um churrasco com os nossos amigos brasileiros e sinceramente foi muito intressante toda esta interação. Não só por serem boas pessoas e uma óptima companhia, foi interessante viver um pouco a cultura angolana, a cultura portuguesa, a cultura brasileira, até porque com a nossa história comum, há muitas coisas idênticas e muitas coisas muito diferentes. É curioso saber a história, a evolução das coisas, a maneira de pensar, de viver o dia a dia... discutimos o novo acordo ortográfico, comparámos a maneira como se vive nestas três culturas tão interligadas e ao mesmo tempo tão distintas. Eu digo sempre o mesmo, a música e a dança de cada cultura diz muito das pessoas e como elas vêm e vivem a vida: o Brasil e a alegria do seu samba e do Forró, Angola com a sua sensualidade do Kizomba, tarraxinha e as suas próprias danças tribais e Portugal... com o seu fado! Tem tudo a ver!
Enganei-me, o churrasco foi domingo 27, mas durante a semana houveram uns jantares típicos espanhóis, com as cozinheiras Ludi e Alba.

Dia 27 de Julho
Churrasco na “fazenda”. Todo o dia na conversa a petiscar, a beber, um domingo bastante descontraído, também a recuperar da ida à discoteca do Kipungo.
Uma outra imagem que ficará na minha memória será o céu do Hoque! O céu durante a noite! Como raramente havia luz, a pequena comunidade ficava submersa numa escuridão total, um azul escuro do céu, contrastando com a luminosidade das estrelas. Acho que nunca vi umas estrelas tão brilhantes!! E depois, houve uns dias entre 18 e 22 de Julho, em que a lua chegava tarde e então dava para observar e admirar o céu e a sua escuridão absoluta com as estrelas cintilantes e depois, a vinda da lua... tão cheia!! E aí a noite ficava iluminada! Lembro-me dessa imagem, numa noite sentados nas escadas da igreja amarela que apenas tinha a fachada... Bons momentos em Hoque... ficarão na memória...

Dia 28 de Julho
Fomos para Lubango pela manhã. Foi falado da possibilidade das 4 voluntárias ficarem na casa que Metro-Europa tinha no Lubango para os trabalhadores em momentos de passagem (em que esperam avião para Luanda ou quando chegam de Luanda). Nesse dia tivémos uma reunião com um p. da Cáritas para acertar uns pormenores sobre uma possivel formação a dar, que afinal não foi dada. Contingências da vida!
Então, como não nos apetecia muito ir para a casa do p. e porque havia essa possibilidade dessa casa no centro da cidade de Lubango, e não no bairro Mukamba, para os lados de Tudavala, onde a cerveja N’Gola é feita!
Decidimos ir para essa casa à espera do responsável para saber se podemos ficar ou não. Como responsável apareceu já passava das 23h, deixou-nos ficar essa noite... não foi nossa culpa, foi uma má organização, mas sentimos que estávamos totalmente em actividade Okupa!

Dia 29 e 30 de Julho
Lubango
Situação bastante cómica da telenovela... cómica agora, na altura parecia um pesadelo cómico, mas pesadelo!
Só penso na imagem da sala onde estavam as cinco personagens... o discurso esqueço, mas a imagem!? Eu, Rafa, Faustino, Ludi e o S.P!
No comments...

Dia 31 de Julho
Ida para o Namibe
As 4 voluntárias apanharam o autocarro de Lubango para Namibe, finalmente iriam conhecer a praia do Namibe! Uma viagem linda de se fazer... a serra, o deserto, um oásis e depois de novo o deserto e por fim, a praia!
O pai da Rita vive no Namibe e foi-nos apresentar a cidade e as coisas mais bonitas.
No final do dia as 4 voluntárias despediram-se, o primeiro campo de trabalho já acabara e o grupo separa-se passado 3 semanas juntas. Adeus Ludi e Alba!! Seguem para Lubango para no dia seguinte irem para Luanda e voltarem para casa.
Eu e Rita ficamos no Namibe, à espera do segundo grupo de cooperantes, para o segundo campo de trabalho.

De 1 a 4 de Agosto
O Sr. Fernando e Sra Mariza tratam-me muito muito muito bem... sempre bom pequeno almoço, óptimos almoços, jantares fantásticos... Alguns quilitos que poderei ter perdido em Hoque em 2 semanas, foram rapidamente restaurados, de tão bem que me trataram... Os 3 irmãos da Rita eram demais e divertíamo-nos imenso com os putos! E conhecemos todas as praias do Namibe!
Fui fazer uma pequena visita a Lubango e a Hoque e logo voltei a Namibe. Pode-se dizer que estávamos de férias! E que belas férias! No domingo tomei banho numa das belas praias do Namibe, tendo em conta que estávamos no Inverno, não havia angolanos nas águas. Mas para uma portuguesa, habituada à Foz do Arelho, a água até estava bastante boa! Consegui que o Rafa me fizesse companhia nuns mergulhos, para ele a água também estava fria, está habituado ao Atlântico da Bahia! Eu dava um mergulho e olhava para as ondas... é que por ali dizem que costuma andar tubarão...

Dia 5 de Agosto
O segundo grupo de cooperantes chegava ao Namibe após algum pequeno problema que tentaram resolver, mas que afinal apenas dia 23 foi resolvido... uma mala da Catarina, que chegou a Luanda apenas no dia anterior da volta para Lisboa...
Então o grupo de cooperantes desta vez eram: eu, Rita e Catarina portuguesas, Esther, Lina e Mercedes galegas, Jamie- inglês e Mathias- alemão. Mudámos de um grupo de 4 pessoas para um de 8, e 8 pessoas totalmente diferente umas das outras... mas tudo é aprendizagem e foi uma dinâmica de trabalho muito interessante.
Houve um padre do Namibe que os foi buscar ao aeroporto e depois a nós. Todos, fomos em direcção ao Sul: Tombwa.
Tombwa, uma pequena cidade marítima, onde ficámos a viver na zona Sul.
Ainda nesse dia fomos ter com as irmãs, com quem jantámos no seu lar e tivémos uma pequena apresentação por parte dos padres.
Estava toda a gente cansada e fomos fazer as nossas camas. Colchões no chão, éramos 6 num quarto. Em Hoque tinhamos as mosquiteiras, mas aqui era impossivel, não havia forma de as agarrar a nada. Mas também existiam muitos bichos... eu não olhava muito, era minha técnica de controlo! Mas moscas, centenas!! Mosquitos, muitos, melgas, baratas, aranhas e pulgas possivelmente algumas... tinhámos sempre muitos visitantes!

De 6 a 8 de Agosto

Compra de comida, reuniões com as irmãs, organização de horários, planificação das aulas...
Jamie e Mathias davam aulas de inglês, Mercedes de informática, eu e Lina de Saúde, Rita, Esther e Catarina trabalhavam na parte dos apadrinhamentos. Então estes dias foram de contextualização, organização e planificação da próxima semana. As coisas em Angola têm um ritmo bastante diferente... vai tudo com calma, sem stresses, devagar e tranquilamente!
Eu e Lina fomos fazer umas visitas pelo centro de Saúde e Hospital de Tombwa, conhecemos o director do Hospital, o Dr. Campos, uma pessoa super acessível, com uma cultura e com um curriculum impressionante. Conhecemos o Dr Sanchez e Dr Tomás, dois médicos vindos de Cuba. Também conhecemos a enfermeira chefe: a enfermeira Cecília. Explicraram-nos as principais doenças que afectam esta comunidade e quais as formas de prevenção que existem, tratámos desses assunto nas nossas aulas. Estas pessoas fizeram-me sentir que a população de Tombwa está bem entregue com estes profissionais da saúde e não me enganei, porque os próprios cooperantes tivarem de passar pelas suas mãos e não tiveram mínima razão de queixa: um trato excelente.

9 de Agosto
O grupo de cooperantes decidiu ir visitar o Namibe. Passear pela praia, ir ao mercado... e pouco mais... um sábado de passeio traquilo...
Eu segui até Lubango, onde fui passar fim de semana! Aos fins de semana tinhamos tempo livre, decidi rever pessoas importantes que tinha conhecido! E que provavelmente não sei quando tornarei a ver... espero que algum dia! Pessoas que me deram uma diferente perspectiva da vida, uma maneira mais leve de ver a vida, uma liberdade de viver sem andar constantemente atrás dessa liberdade, uma liberdade que se sente desde o momento que se acorda até ao momento que se adormece. Uma liberdade de viver, um carpe diem sem se saber... Um viver assim porque a escola da vida ensinou isso mesmo, e porque a escola da vida foi a única escola, mas fazem dessas pessoas provavelmente muito mais inteligentes e cultas do que muitos com canudos debaixo dos braços.
Uma liberdade que corre nas veias e artérias, por mais que eu quizesse ser um pouco assim, seria impossivel... essa tua forma de ser e viver está nos teus genes, veio da tua avó indía, tens essa tua beleza tão especial... que jamais encontrei... que jamais encontrarei!

De 11 a 15 de Agosto
Arregaçar mangas porque vamos ao trabalho!
Supostamente eu e Lina iríamos ter 4 grupos: 2 das mulheres da Promaica (um grupo de mulheres já organizadas e activas na comunidade) e 2 dos pais que têm crianças apadrinhadas. Afinal tivémos apenas 2 grupos, um das mulheres e um dos pais. O grupo das mulheres muito bem, eram pessoas participativas que estavam com vontade de aprender o que quizessemos explicar. O grupo de pais, mais complicado: não sabiam ler nem escrever, a sua situação económica muito complicada, juntamente com a situação social e educacional. Foi bastante complicado chegar até eles, eram apáticos e pouca vontade de estarem ali, explicaram que o queriam era aprender a ler e a escrever. Já fizémos essa mesma sugestão à associação: alguém para dar aulas de alfabetização a estas pessoas!! Voluntários para ir os 2 meses do próximo Verão??
As nossas aulas eram de Alimentação, Nutrição, Higiene, prevenção de doenças, familia, sexualidade, sida. Principlamente era isto... mas quando surgia alguma questão, falávamos do que fosse com muito gosto!
Com o grupo de mulheres muito interessante! Com elas aprendemos imenso sobre a sua cultura e isso cativava-nos cada dia mais. Embora muita coisa, a minha visão “demasiado” moldada a um pensamento e normas ocidentais não me deixasse compreender, respeitava e queria saber sempre mais e mais...
Por exemplo um dos aspectos era a poligamia e a diferença entre homens e mulheres. Por um lado sentia-me indignada como mulher, mas por outro pensava que até pode não ser mau, porque apenas somos diferentes e temos formas de ver a família de uma forma distinta! O homem na sociedade africana é quem tem de suportar os gastos da sua família: mulher e filhos. Caso tenha dinheiro pode ter uma outra mulher e filhos com esta e outras mais mulheres, até que a sua situação económica permita! Ou seja: pode-se dizer que a riqueza de um homem é medida pelo número de mulheres que tem. Conhecemos algumas situações em que os homens nos diziam que “mas se compro alguma coisa a uma, tenho de comprar exactamente igual às outras!” “e se estou 2 dias com um tenho de estar exactamente o mesmo tempo com as outras, porque se não zangam-se!”. A opinião das mulheres era um pouco distinta, consideravam a poligamia a coisa mais natural, mas consideravam que havia sempre a 1ª mulher e as outras tiham trato diferente. As opiniões da cidade e do campo também variavam bastante. Nas zonas rurais, onde existiam os quimbos, o homem tinha a sua familia em pequenas casas todas juntas, onde todas as suas mulheres viviam em comunidade e eram amigas umas das outras. Desde que o homem dê de comer e vestir às suas mulheres e seus filhos, não há discussão.
Uma pergunta que nos faziam sempre era para saber a nossa idade. Lembro-me um dia, estava eu com a Lina e uma jovem que eu pensava ter cerca dos seus 25 anos, afinal tinha 18 e já tinha uma filha. Primeira pergunta: “quantos anos têm?” e eu já imaginava que estava longe de imaginar, porque tal como eu, tínhamos grandes dificuldades em ver a idade das pessoas. “o que achas?” e ela: “devem ter 20 anos mais ou menos”
E eu respondi “eu tenho 26 e a Lina 28”. Reacção: “O quê??? Não pode ser! Não acredito!” Após alguns minutos de dizermos sim sim é verdade, meia convencida lá veio a segunda pergunta “Mas então e quantos filhos já têm?” A resposta deixou-a perplexa e ainda mais quando dissémos que para além de não termos filhos, não somos casadas nem temos namorados.
Essa situação aconteceu-nos com bastante frquência...explicámos que nos nossos países estudávamos e tentávamos encontrar um emprego e só depois pensávamos em casar e ter filhos. E que muitas vezes isso acontecia por volta dos 30 anos. Ficavam muito admirados... a mulher angolana tem em média 10 filhos! E a esperança de vida é de 45.

Nessa semana de aulas, tínhamos de fazer cerca de 30 minutos da nossa casa até ao centro, depois voltar para almoçar e voltar à tarde. Mas poucas vezes fizémos isso a pé, quase sempre apanhámos boleia de carros, carrinhas, camiões, tractores, o que seja! Adorava ir na parte de trás das carrinhas, com aquele vento húmido com sal a bater na cara e a dizer adeus e a acenar com a mão, de 5 em 5 segundos, quando as criancinhas nos chamavam alegres : “amiga!!” e diziam adeus!

16 e 17 de Agosto
Fim de semana.
Sábado ir visitar a comunidade do Arco, onde vivem 30 pessoas. Um lago, que vem do afluente do rio Cunene. Uma vista lindíssima, junta-se deserto, dunas, montanhas, lago, árvores... lindo! As fotos dirão tudo! As crianças aqui não vão à escola, é muito longe! Mas têm horários e todos fazem as tarefas divididas pela comunidade: pesca, tear, cuidar dos burros, cuidar da horta e têm galinhas. Uma comunidade bastante interessante!
Sábado à noite fomos ao comício do MPLA, apenas porque tinham muita música e era mesmo ao lado da nossa casa, não por nenhum interesse político e isso tentámos explicar a toda a gente que nos vinha saludar do MPLA. Dizíamos que no dia seguinte também iríamos ao da UNITA, para não haver confusões.Uma noite alegre, com muita música e toda a gente a dançar... e como eles dançam...!!
Domingo fomos visitar a comunidade de Curoca. Alugámos um táxi e no meio do deserto, aparece uma placa: benvindo à comunidade de Curoca! Mais uma pequena comunidade à beira do rio. Pessoas humildes, mas uma comunidade mais homogénea do que nas cidades. Nas zonas rurais existe muita pobreza, mas todos conseguem viver mais ou menos com o que a terra e o mar dá, nas cidades existem mais possibilidades (porque vende-se de tudo nas ruas), mas existe maior discrepância entre os mais ricos e os mais pobres.

De 18 e 19 de Agosto
A doença chegou a nossa casa. Éramos para ir embora na 2ª, mas afinal seria na 3ª, mas afinal só mesmo na 4ª... uns foram ao hospital e ficaram por lá...tinham apanhado paludismo, um outro nome para a malária. A partir desse momento, como os outros também estavam meio adoentados, ficámos com receio de que também tivésemos apanhado... todos estavam com alguma coisa, com a excepção de Rita e Esther!
Mas apenas Mathis e Mercedes apanharam malária.

20 e 21 de Agosto
Eu e Jamie fomos para Namibe. Apanhámos táxi às 6h15, passado uma hora estávamos a sair de Tombwa, démos 5 voltas à cidade à procura de passageiros, o táxi apenas se ia embora quando estivesse cheio. Mas afinal erámos apenas 6 passageiros desta vez. Quando chegámos ao Namibe comprámos 4 bilhetes de autocarro para Lubango para nós e para Catarina e Lina que chegariam ao Namibe passado algumas horas. Comprámos também os bilhetes de avião de Namibe a Luanda para 5ª feira para Mercedes, Mathias e Esther e os bilhetes de Lubango Luanda para 6ª feira para nós os 4. Rita já ficou por Namibe. Fica com o pai até Setembro!
Afinal apenas havia bilhetes às 15h30, chegámos a Lubango já de noite, dificuldades em apanhar táxis e faziam-nos preços absurdos...mas era longe o lar da irmã B., acabámos por aceitar uma proposta demasiado alta, mas não havia solução e caminhar até lá seria uma missão impossivel!
Chegámos, cansadas e fomos dormir.
Os meus indestinos essa noite passaram um mal bocado... essa noite e todo o dia seguinte! E como dizia, se não é da prevenção, é da doença e se também não é da doença é do tratamento... mas essa última semana andávamos todos mal... uff!

22 de Agosto
A irmã B. foi-nos por ao aeroporto de Lubango às 7h da manhã, tinhamos de fazer check-in às 9h porque tínhamos voo às 11h. Eram 16h estávamos a sair de Lubango! Uma situação cómica no aeroporto: Jamie bebeu umas cervejas à espera do avião... e claro, é de bom gosto ajudar na ecónomia do país e por isso a cerveja era N’Gola... até ter visto alguma coisa estranha na garrafa antes de ser aberta... estava um preservativo dentro da garrafa de cerveja!!!
A partir dái não bebeu mais N’Gola... e começou a pensar na qualidade da cerveja que tinha bebido anteriormente...
Chegámos a Luanda por volta das 17h, já estava a anoitecer. A irmã R. foi-nos buscar ao aeroporto. Todas as malas chegaram. Estava tudo bem!

23 de Agosto
Último dia em Angola.
Pouco tempo para fazer o quer que seja. Uma cidade enorme, um trânsito caótico. Demorávamos horas para fazer poucos quilómentros e tudo é longe...
Afinal não vi mesmo nada... fui a uma feira conhecida pelo seu artesanato, peças de madeira, marfim, pinturas, tecidos... gastei os meus últimos e poucos kwanzas...
Aproveitei para me sentir e para me despedir dos ares de Angola... para me despedir desdes quase 2 meses de tantas sensações, de tantas aprendizagens que ficarão para a vida... de tanta intensidade nas emoções!

24 de Agosto
Às 6h da manhã a Esther e o Beto foram-me buscar ao Projecto Nova Vida. Despedi-me do Rafa que ficaria por Luanda até 5ª feira, que foi quando teve voo para o Rio. E depois fomos buscar os outros cooperantes aos outros 2 lares das irmãs.
Destino: aeroporto internacional. Check-in, emigração... tem dinheiro angolano? Não...claro que não... Todos os artigos de artesanato têm selo para poderem sair do país? Sim, claro que sim...
Às 9h saíamos de Luanda, voo 252 da Tap.
Às 17h chegávamos a Lisboa...
Felizes?... sentimento demasiado estranho... não gosto nada dos regressos...
Saudades já e muitas... das coisas que vivi e que sei não irão ter retorno... das pessoas que conheci e do que me ensinaram... trouxe tanta coisa comingo de tanta gente...
A magia de Angola, a magia do encontro de pessoas e de culturas, de costumes, de raças, de religiões... Esta sensação de ser portuguesa, mas ir além disso, não ser apenas europeia, não ser nada de concreto, mas ser apenas uma pessoa deste universo, com raizes da união das raças de todo o mundo...