quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Resumo Angola- parte I

Dia 8 de Julho de 2008
Joana, Rita, Alba e Ludi- as 4 cooperantes da ONG Coopera, partem de Lisboa para Luanda no voo 257 às 23h15 pela TAP.
Depois de alguns imprevistos: atraso de autocarro, sem saldos nos telemóveis, casacos esquecidos, malas com excesso de peso e muitos etcs… as 4 cooperantes juntam-se pela primeira vez já no aeroporto de Lisboa. Conhecem-se, conversam e facilmente entendem que iriam dar-se muito bem. Motivadas, alegres, confiantes com uma ligeira ansiedade típica do momento de partida e de nem imaginar o que as espera do lado de lá… adoro sentir isso!
Dia 9 de Julho
Às 7h chegam à capital angolana. Preencher formulários… nome, idade, numero passaporte, profissão (minha primeira dificuldade), nacionalidade, residência (minha segunda dificuldade), local onde fica hospedado em Angola, o que vem a fazer, até quando fica, voo de chegada, voo de regresso… fila! Já chegou a vez e o passaporte é visto e revisto e carimbado sem mais dificuldades. Já estou dentro! Esperar malas, chegaram todas!
Uma irmã (freira) foi buscar as voluntárias e levou-as do aeroporto internacional de Luanda para o aeroporto nacional. Comprar bilhetes, por que companhia? Tanto faz, mas Taag não!!! Foi SonAir. Check-in e rapidamente já estavam dentro do avião. Tudo a correr bem! Luanda cidade não a vi, apenas o que existe entre os 2 aeroportos: muita gente, lixo nas ruas, trânsito, um ar abafado.
Luanda para Lubango, 1 hora de viagem com escala perto de Benguela. Um voo normal, com direito a uma sandes e a um bolo. Viagem cara, cerca de 100 euros apenas ida, só mesmo as pessoas com mais possibilidades podem fazer este tipo de viagens, as que não, por estrada demoram umas longas, longas horas, porque as estradas estão muito más.
Chegada a Lubango- “Bienvenidas!”- foi o que nos gritou o P.L. da varanda do aeroporto. “Que simpático”, pensei. Como me enganava (…)
Uma contextualização importante, conhecer um pouco a cidade, conhecer esses jovens que tinham um enorme interesse por tudo o que poderíamos contar e explicar… um momento que me recordo, uma noite, à luz das velas, todos sentados à volta das mesas a falarmos de tanta coisa… miudos super inteligentes e com uma vontade tão grande de serem alguém. Ensinaram-nos umbundu, cantaram kuduru (suas próprias letras!), dançaram… miúdos fantásticos!
Conhecemos o Arcebispo, passeámos pela Senhora do Monte e fomos ao Cristo Rei. Lubango com as suas avenidas a lembrar uma típica cidade portuguesa, as fachadas dos edifícios, fez-me sentir dentro lá fora, certas vezes numa confusão mental, parecia mesmo que estava em Portugal, também com os anúncios em cada café de Delta, e as típicas pastelarias com pastéis de bacalhau, pastéis de nata, mil-folhas, pão de Deus, galão e nos supermercados as mais conhecidas marcas portuguesas (com preço de Portugal ou até mesmo mais caro!), realmente facilitavam muito a essa confusão mental de entender, afinal onde é que estou?
Então, voltando ao lar da Nazaré, esses miudos viviam com uma responsabilidade de fazerem 1001 coisas num só dia. O dia começava para eles às 5h, rezar, tomar banho e arrumar o quarto, fazer o mata bicho e come-lo, alguns escola, outros a limpar e lavar e fazer cimento e cuidar da horta e lavar o quintal e varrer e limpar o pó. Depois fazer almoço, rezar, almoçar e um outro turno escola, tarde no stop de trabalho tal como a manhã e estudar. Estudam bastante! Mas tempo livre para eles próprios, porque afinal de contas são miudos…não há! E quando há… também há sempre um dedo a indicar o que fazer. Não vou falar mais disto, porque realmente não me apetece nada estar aquí a criticar as coisas desta forma, mas acho que já deu para entender. (...) haviam os 24 putos, humildes e motivados a aprender, nestas condições que foi o que conseguiram, agarraram esta oportunidade para estudarem e um dia serem alguém. Acredito muito nestes miudos!

Em Lubango tivémos a nossa primeira experiência com os táxis, uma aventura! Cada táxi era um mundo, 9 lugares para quase 20 pessoas, 50 kwanzas. 100 kwanzas equivale mais ou menos a 1euro… mais ou menos! Também em Lubango fomos ao mercado, onde nos apercebemos pela primeira vez, da verdadeira realidade. Nesse mercado vende-se de tudo, e esse tudo engloba realmente tudo! Num outro mercado, salvo erro São João de Deus? O lugar da carne era um sitio onde tinham vacas e outros animais penduradas e cortavam a carne ali mesmo… pode-se imaginar as moscas, o cheiro…
Saída de Lubango no dia 12 de Julho.

Dia 12 de Julho
Sábado, as voluntárias foram para Hoque no jipe do s.p., para essa pequena comunidade no mato, no meio de nada. Cerca de 1 hora para nordeste. Conscientes que a expêrincia extrema iria chegar agora, conscientes de que a realidade nua e crua era agora que começava.
Hoque, com uma igreja destruída pela guerra, apenas a fachada amarela esburacada por algumas balas se mantêm, mas com sino! E algumas escadas para se ir tocar o sino.
As voluntárias chegaram e tiverem as boas vindas por parte dos habitantes de Hoque, exactamente o que imaginava de uma cultura Africana: o seu ritmo, as suas danças, as suas músicas, as suas vozes, as suas cores, a sua energia.
Conhecemos os senhores da comunidade, e senhores pode-se consideram como os vips: o padre, o seminarista (esse já conhecíamos, que veio conosco para nos ajudar- “controlar”), os professores, o administrador da comunidade e depois o director da metro-Europa (uma empresa de engenharia e construção com um sócio brasileiro e o outro angolano que estão a trabalhar na construção de estradas).
A nossa casa, pouco posso dizer, acho que as fotos dirão tudo. Uma sala onde eram dadas aulas a um grupo e depois um quarto com 2 beliches com 4 colchões, uma outra divisão onde foi colocado o fogão e chamavamos de cozinha e uma outra divisão onde estava uma sanita, onde também tomávamos banho com baldes. Tudo bem, tal como imaginaríamos. Também tal como imaginava, muitos bichos… no início andava com uma lanterna à cata deles e horrorizava-me!!! Depois optei por simplesmente não olhar para as paredes nem para o tecto, assim consegui viver mais feliz nessas 2 semanas em Hoque.

Dia 13 de Julho
A missa!
Eu que tive uma educação bastante católica, mas houve um momento da minha vida que me apercebo que não fazia sentido (...)Faz cinco anos quando visitei o todo poderoso do Vaticano, fiquei perplexa com a sua riqueza (…) Tanto dinheiro ali para quê?
Ok, já me desviei, mas simplesmente para dizer que se já à priori a igreja católica não me cativa, então depois desta experiência...(...)Religiosidades à parte, fui à missa. Não pelo facto de ser uma missa, mas por ser um acto cultural e social, e foi um momento impactante! Não sei se pelo facto de todas as pessoas irem à missa e algumas delas se terem de deslocar provavelmente muitos muitos quilómetros, se pelo facto de num pequeño espaço debaixo da árvore se juntar uma grande diversidade de cores garridas das suas vestimentas, se pelos seus cânticos e danças… provavelmente por tudo isto junto. Num momento, quando estavam a cantar e depois foram dançar, as mulheres como sempre com os seus filhos nas costas e um bebé chora, e vai daí saca uma mama e dá de mamar à criança, uma imagem que me ficou, pela raridade desta situação do meu quotidiano, mas depois afinal já me habituei, é a coisa mais natural. Dão de mamar, no meio de missa, no meio da dança (sem parar de dançar!), no meio das aulas, aonde quer que seja.
3 horas de uma energia…
Também me chocou de ver todas as pessoas, incluindo aquelas que não têm quase nada para comer, no momento do ofortório a sacarem de uns trocos, de um saco de feijão ou de uma maçaroca de milho… E claro, uma homilia forte, mostrando a autoridade que a igreja tem e o seu poder, numa pequena comunidade rural no meio de Angola.
Mas quero aqui dizer que também é muito importante algumas coisas que a igreja faz com esta população! Aliás, se não fossem eles, não teríamos ido para lá nem teríamos conseguido fazer o nosso trabalho.

Dia 14 de Julho
Primeiro dia de aulas em Hoque. Incrível mas real, alguns dos nosso alunos caminhavam 6 kms cada dia para irem assistir às nossas aulas…
A Rita era a responsável pela parte da educação e deu formação a professores. Eu, Ludi e Alba démos formação a “profissionais de saúde” e dividimos as pessoas dessa área da em 3 grupos, a Ludi que é auxiliar de enfermeira deu higiene e alimentação, Alba que é fisioterapeuta deu higiene ambiental, posturas e prevenção de algumas doenças e eu trabalhei a comunicação entre profissionais de saúde e paciente, as fases de adaptação da doença e tocámos alguns temas tais como a família, assertividade, emoções, direitos humanos… Sinceramente nas minhas aulas dependia muito de cada grupo… Era complicado fazê-los participar, eram pessoas muito apagadas e pouco dinâmicas, então o que decidi não era dar muita coisa, mas coloquei como objectivos principais fazê-los pensar, reflectir sobre as coisas e participar. Preferia falar de 1 coisa, mas conseguir que me dessem as suas opiniões! Foi dificil, não estão nada acostumados a pensar sobre o que se diz, estão habituados a ouvir e a dizerem sim, muitas vezes sem entenderem bem as coisas. Então, nas minhas aulas, provavelmente tornei-me chata, mas não saía do mesmo tema até escutar todas as suas vozes e opiniões. As aulas começavam às 9h e acabavam às 12h. Na parte da saúde, cada uma de nós dava 2 dias ao mesmo grupo e depois rodava.
De 14 a 19 de Julho essa foi a nossa manhã.
14 e 15 à tarde fomos a Makelo conhecer uma pequena comunidade, realmente no meio do absoluto nada, mas sempre com algo especial…um encanto…uma magia…

4 comentários:

Luchete disse...

HOla Joana! Se puede ver el blog en castellano? Jo, es q he leído algo y parece bastante interesante el contenido, pero claro, en catalán pues....poca idea tengo sí...

Aún así, buen rincón. Un saludito!

disse...

HOla Luchete!
VOy a ver si puedo poner alguna cosa como he puesto para ingles... pero tambien hay este site que me parece que estea bien...
http://www.online-translator.com/site_translation.aspx?prmtlang=pt
gracias por la visita!!
Joana

Lightfragments disse...

miuuuda!! que contente tou que tenhas escrito tudo sobre a nossa diáspora pelas africas!
acabo de copiar tudo para a minha pen pa ler com calma em casa. tou ainda no Namibe que nos ultimos dias tem passado a maior parte do tempo sem electricidade... a ver se hoje ja temos.. o gerador do meu pai foi a vida e eu passo o tempo a ler,,, no cyber é um desespero com esta net que bem conheces... leeeenta,,

enfim.. um beijinho grande miudita!!
rita

anydrus disse...

Ola. conhecem processos de adoção em Angola? ou organizações que trabalham com o tema adoção de crianças/miúdos abandonados.
agradeço qualquer informação.
estou trabalhando com este tema no Brasil.
alexandre@coopere.net