terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

"De vous a moi I” – Isabelle Vital


PRELÚDIO


Pela estrada desce a noite

Mãe-Negra, desce com ela...

Nem buganvílias vermelhas,

nem vestidinhos de folhos,

nem brincadeiras de guisos,

nas suas mãos apertadas.

Só duas lágrimas grossas,

em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento,

voz de silêncio batendo

nas folhas do cajueiro...

Tem voz de noite, descendo,

de mansinho, pela estrada...

Que é feito desses meninos

que gostava de embalar?...

Que é feito desses meninos

que ela ajudou a criar?...

Quem ouve agora as histórias

que costumava contar?...

Mãe-Negra não sabe nada...

Mas ai de quem sabe tudo,

como eu sei tudo

Mãe-Negra!...

Os teus meninos cresceram,

e esqueceram as histórias

que costumavas contar...

Muitos partiram p'ra longe,

quem sabe se hão-de voltar!...

Só tu ficaste esperando,

mãos cruzadas no regaço,

bem quieta bem calada.

É a tua a voz deste vento,

desta saudade descendo,

de mansinho pela estrada..

Alda Lara

Lisboa, 1951 (Poemas, 1966)

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